A Necessidade de um Estado Pontifício

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Em sua carta escrita em 15 de junho de 1887, afirmava o papa Leão XIII:
“A suprema autoridade pontifícia, instituída por Jesus Cristo e conferida a São Pedro e aos seus sucessores legítimos, os Pontífices Romanos, não pode, por sua natureza mesmo e por vontade do seu Divino Fundador está sujeita a algum poder terrestre ; ao contrário, ela deve gozar da mais plena liberdade no exercício de suas funções… É necessário que o Sumo Pontífice seja colocado em condições de independência Tais que não somente a sua liberdade não seja entravada por quem quer que seja, mas se torne mesmo Evidente a todos que ela não é tolhida. ” ( L’ Osservatore Romano 12 de fevereiro de 1929; PR 394/1995).

O Papa Pio XI disse a mesma coisa aos professores e alunos da Universidade de Milão :
Em virtude da Divina responsabilidades de que está investido o Pontífice Romano , qualquer que seja o seu nome e Qualquer que seja a época em que viva não pode estar subordinado a poder algum ( La Documentation Catholique, 1929 , col. 472; PR 394/1995, p.7).

“Não se conhece ao menos até os nossos dias, outra forma de soberania verdadeira e própria que não seja a soberania territorial a soberania territorial …Qualquer que seja sua modalidade , é condição que todos reconhecem indispensável à verdadeira soberania jurisdicional. ” ( La Documentation Catholique , 1929, col. 469 ; PR 394/395

É preciso entender que para a Igreja , a plena autonomia do Sumo Pontífice não é uma questão política, mas uma questão religiosa para o livre exercício do Ministério Apostólico e instauração do Reino de Deus na terra.

Desde 20 de abril de 1849, o Papa Pio IX já afirmava:
” É evidente que os fiéis , os povos , e as nações , os reis , nunca se voltarão para o bispo de Roma com plena confiança e obediência quando o virem súdito de um soberano ou de um Governo , e souberem que não está em plena posse de sua liberdade. Pois então poderão sempre suspeitar e recear que o Pontífice , em seus atos , sofra a influência do soberano ou do Governo em cujo território ele resida. E, em vista desse pretexto, acontecerá muitas vezes que as determinações do Papa não serão executadas. ” ( PR 394 / 1995).

O que confirma o acerto dessas palavras do Papa , é , por exemplo, o que o imperador Frederico II da Prússia escrevia a seu amigo Voltaire , inimigo da Igreja, em carta de 9 de julho de 1777:
” Quando o principado civil dos papas tiver desmoronado , então seremos vitoriosos e a cortina cairá. Daremos uma boa pensão ao Santo Padre. E que acontecerá então ? A França, a Espanha, a Polônia , em uma palavra : Todas as potências católicas já não haverão de reconhecer um Vigário de Jesus Cristo subordinado ao braço do Imperador. Cada qual desses países criará um patriarcado em seu próprio território… Aos poucos afastar- se- ão da unidade da Igreja , e cada um acabará por ter em seu reino a religião própria como tem a sua língua própria.” ( Voltaire , Oeuvres complêtes XII , Paris 1817, p. 64; PR 394 / 1995).

O Papa Pio XI , por ocasião do tratado do Latrão , quis explicar o porque da existência de cinco Pontífices em não aceitar simplesmente a perda do Estado da igreja, mesmo que com os poderes tão reduzidos :

” Podemos dizer que não há uma linha, uma expressão do Tratado ( do Latrão ) que não tenham sido , ao menos durante uns trinta meses, objeto particular de nossos estudos , de nossas meditações e , mais ainda , de nossas orações, que pedimos outrossim a grande número de almas santas e mais amadas por Deus. Quantos a nós , sabíamos de antemão que não conseguiríamos contentar a todos, coisa que geralmente nem o próprio Deus consegue …

Alguns talvez achem exíguo demais o território temporal. Podemos responder , sem entrar em pormenores e precisões pouco oportunas , que é realmente pouco , muito pouco ; foi deliberadamente que pedimos o menos possível nessa matéria , depois de ter refletido , meditado e orado bastante. E isso, por vários motivos, que nos parecem válidos e sérios.

Antes do mais , quisermos mostrar que somos sempre o Pai que trata com seus filhos ; em outros termos : quisemos manifestar nossa intenção de não tornar as coisas mais complicadas e, sim, mais simples e mais fáceis.
Além disso , queríamos acalmar e dissipar toda espécie de inquietação; queríamos tornar totalmente injusta , absolutamente infundada, qualquer recriminação levantada em nome de … iríamos dizer : uma superstição de integridade territorial do país (Itália).
Em terceiro lugar , quisemos demonstrar de modo peremptório que espécie nenhuma de ambição terrestre inspira o vigário Jesus Cristo , mas unicamente a consciência de que não é possível não pedir, pois uma certa soberania territorial é a condição Universal reconhecida como indispensável a todo autêntico poder de jurisdição. Por conseguinte ,um mínimo de território que baste para o exercício da jurisdição, o território sem o qual não poderia subsistir…

Parece-nos ,em suma , ver as coisas tais como elas se realizavam na pessoa de São Francisco : este tinha apenas o corpo estritamente necessário para poder deter a alma unida a si . O mesmo se deu com outro Santos : seu corpo estava reduzido ao estrito necessário para servir a alma, para continuar a vida humana e , com a vida , sua atividade benfazeja. Torna-se- à Claro a todos, esperamo – lo, que o Sumo Pontífice não possui como o território material senão o que lhe é indispensável para o exercício de um poder espiritual confiado a homens em proveito de homens. Não hesitamos em dizer que nos comprazemos neste estado de coisas ; comprazemo – nos por ver o domínio material reduzido a limite tão restritos que… os homens devem considerar como que espiritualizado pela missão espiritual imensa , Sublime e realmente Divina que ele é destinado a sustentar e favorecer. ( L’ osservatore Romano de 13 de Fevereiro de 1929 ; PR , 394/ 1995).

As palavras acima definem bem a mente da igreja a respeito do poder temporal. Em última análise , vê- se que o Papa considera a sua soberania territorial como o corpo imprescindível ao exercício das atividades de uma alma ou como condição indispensável para o cumprimento de sua missão ; assim como a alma neste mundo não age normalmente sem corpo , assim a tarefa espiritual da igreja seria impedida , caso lhe faltasse tal suporte temporal.

O Papa exerce autoridade sobre mais de um bilhão de almas espalhadas no mundo inteiro. Por isso há a necessidade de que o Governo e o Chefe Supremo da Igreja devem ser independentes de qualquer soberano político.

Um exemplo triste na história da Igreja, por causa do poder do Papa estar sujeito de certa forma a uma nação , foi o ” Exílio do Avinhão” , quando, de 1309 a 1376, os reis franceses conseguiram que os Papas residissem em Avinhão ( França) , carecendo de soberania temporal ,,sujeito à influência do governo francês. Nesse período os Papas foram perdendo parte da sua grande autoridade moral perante a opinião pública internacional. Muitos cristãos , e santos, fervorosos alarmavam- se com a situação. Foi o caso, por exemplo, do rei Carlos IV da Alemanha, o poeta Petrarca, Santa Brígida e Santa Catarina de Sena. Esses temiam que se a situação se prolongasse por muito tempo o Papado deixaria de ter o prestígio sobrenatural e universal ( católico ) que precisa sempre ter.
Para dar apenas um exemplo desta difícil situação, neste período, o Papa João XII ( 1316 – 1334) excomungou o rei Luiz IV da Baviera, por suas pretensões cesaropapistas ( querer ser o chefe da Igreja no seu Estado). Então , este rei respondeu que o Papa servia aos interesses dos Valois da França; e logo criou um antipapa ( Nicolau V ) , alegando que a França tinha o ” seu ” Papa.
Isto tudo mostra a necessidade do Papa ter independência e soberania política entre todas as nações.

Fonte: COLEÇÃO ESCOLA DA FÉ — VOLUME ||| — O SAGRADO MAGISTÉRIO. Felipe Aquino. 5° ed. Editora Cléofas, 2014.
Pág. 64, 65 , 66 ,67 e 68

 

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